Ferrugem, no dicionário, significa o efeito da corrosão do ferro. Não é um processo rápido, mas certamente é muito destrutivo. Lentamente ele vai despedaçando tudo, até impedir que aquele objeto fique de pé, sozinho. Ferrugem, o filme, discute – entre vários assuntos importantes – esse sentimento, que corrói a alma da gente. O filme nacional, em cartaz pela Olhar Distribuição e dirigido por Aly Muritiba, é a dica de hoje da coluna de Cinema do blog Cerveja e Gastronomia.
A história de Ferrugem começa quando um vídeo erótico de Tati, uma estudante adolescente, cai nas redes sociais. Este é o ponto de partida do bullying e de como essas relações vão sendo afetadas – da menina com as amigas, com os colegas, com o ex-namorado, o atual paquera e a família.
Os personagens deste filme são muito bem construídos. Mas muito mesmo. Cada um tem tudo extremamente bem definido e com um propósito. Das roupas, ao modo de falar, de escrever e de se relacionar com os dois protagonistas: tudo parece que foi muito bem pensado para mostrar a realidade do bullying e os impactos que isso causa na vítima e ao seu redor.
Outro aspecto curioso do filme é que ele dialoga com diferentes públicos ao mesmo tempo – sem ser didático nem pedante. Ele fala com o adolescente de igual para igual (ao relatar o drama vivido pela protagonista), mas ao mesmo tempo serve de alerta para os pais e também mostra os pontos de ação e problema de forma muito clara.
A fotografia de Rui Poças é outro ponto forte. É muito interessante perceber a mudança de enquadramentos entre a primeira parte e a segunda parte do filme. Enquanto no início vemos a história do ponto de vista da vítima (opressivo, sem foco nos arredores, como se não conseguisse enxergar nada muito distante), na segunda metade o ponto de vista é do culpado (planos mais abertos, claros).
Se há alguma questão que incomoda no filme, pelo menos para mim, é a falha do roteiro em relação ao vazamento do vídeo. Na história, o vídeo surge no grupo de whatsapp do colégio. Mas a protagonista diz não saber quem teria mandado o vídeo – o que é muito estranho já que no whatsapp todas as mensagens são enviadas por um número de telefone adicionado ao grupo. Mas definitivamente não é isso que impede o filme de seguir e é interessante perceber que, ao ignorar esse fato do roteiro, o filme traz o foco para o sofrimento da garota – que é o importante aqui. Por isso eu disse que é apenas um incômodo, não um problema, na minha opinião.
Se você for ao cinema, repare também na questão dos pais ausentes. É muito sutil a ausência dos pais ricos da protagonista. Eles não aparecem – só se escutam as vozes, numa relação fria e distante.
No geral é um dos filmes que eu gostei de ter visto neste ano. Fiquei alguns dias pensando sobre o assunto do bullying, dos julgamentos que a gente faz das outras pessoas sem nem conhecer, e de como a internet tem trazido alterações profundas nas nossas formas de relacionamento.
Veja o trailer e corra a uma sala para valorizar o nosso cinema nacional – principalmente num filme como este que tem tantos aspectos positivos para a sétima arte! Ferrugem venceu o Festival de Cinema de Gramado deste ano e foi um dos selecionados para o festival de Sundance nos Estados Unidos, também em 2018.
O que beber?
Em um filme como Ferrugem, que discute o bullying do ponto de vista da vítima e do culpado, a dica de cerveja não poderia expressar outro sentimento que não fosse o remorso.
Remorso é o nome da cerveja produzida em Minas Gerais pela Krug Bier. É uma Russian Imperial Stout, de teor alcoólico de 9% e amargor de 54 IBU (se você não sabe o que é IBU, veja aqui neste post especial que fizemos).
Na boca é uma cerveja com sabor de malte torrado bem presente, com um amargor final inconfundível. No nariz você sente logo o aroma de café (esperado nas cervejas do estilo Stout), mas é possível perceber ainda um pouco de chocolate e baunilha. No copo, é uma cerveja escura, linda, com uma leve espuma bege.
Além de ser uma ótima cerveja para acompanhar os dias frios (por causa do alto índice de álcool), a Remorso harmoniza muito bem com queijos fortes, como o Gorgonzola e com sobremesas como o Petit Gateau e até mesmo nosso brasileiríssimo brigadeiro de chocolate ao leite!
Toda sexta-feira você vai encontrar, aqui, nesta coluna, uma indicação de filme e de um rótulo de cerveja. Mas quais os critérios para a escolha dos filmes e das cervejas? Veja aqui como é feita a nossa coluna semanal. Você também pode ler as colunas anteriores.