Eu realmente acredito no poder transformador da arte. São os artistas que, pelo incômodo, pela beleza, ou pelo ineditismo, nos fazem ir além. Talvez por isso eu goste tanto de filmes biográficos, pois me ajudam a entender um pouco dessas mentes tão criativas e borbulhantes, que geralmente têm alguém nos bastidores.
Este é o caso do filme Egon Schiele – Morte e Donzela, que será lançado em todo o país no dia 19 de julho. Vi o filme nesta semana e vou dividir com vocês algumas das minhas impressões na coluna Cinema no Cerveja e Gastronomia desta semana.
Começando pelo título, Morte e Donzela é um dos quadros mais famosos de Egon Schiele. Ele representa um momento importante da vida pessoal do artista que se refletiu no quadro que leva o mesmo nome. Aliás, a cena deste quadro foi muito bem feita e com muita sensibilidade. A direção do austríaco Dieter Berner, que também assina o roteiro com a escritora Hilde Berger, foi muito feliz na forma de encaixar os flashbacks nos últimos dias de vida de Egon.
O diretor contou ainda que a escolha pelo modelo Noah para o papel de protagonista foi um acerto. Mesmo sem experiência, ele investiu em cursos de atuação e de belas artes e fez os desenhos que são rabiscados durante o filme. Eu gostei da forma como ele lidou com a mente borbulhante de Egon e como conseguiu passar isso para o papel. Nem percebi que era um ator iniciante, para você ter uma ideia.
Jovem, talentoso e sedutor, Egon Schiele sempre foi um artista polêmico. E como mostra o filme, sua vida foi cercada de mulheres fortes, que o levaram pelos caminhos da arte e da vida. A relação com a irmã Gerti, que foi a primeira modelo dele, até Wally, o grande amor imortalizado no quadro “Morte e Donzela”, mostra como Schiele dava valor às mulheres que foram passando pela vida dele.
O filme passa pela questão da pedofilia, que nunca foi provada, mas que foi um escândalo na época, já que ele pintava menores de idade nuas ou pelo menos as expunha ao erotismo. É uma questão polêmica, mas que não foi usada como ponto de destaque para chamar a atenção para o filme. Mais um ponto positivo para a direção, já que a vida de Egon é tão mais interessante do que apenas este momento.
Ficou curioso? Veja o trailer do filme que estreia nos cinemas no dia 19 de julho:
O que beber?
Assim como a origem do filme, a dica de cerveja de hoje também vem da Áustria. É a Edelweiss Hefetrüb, uma das cervejas de trigo mais bebidas no país onde ela é fabricada. A diferença dessa versão “Hefetrüb” é que, por não ser filtrada, a cerveja se apresenta naturalmente turva, com aquela cor dourada que a gente vê nos campos de trigo!
As cervejas de trigo são a porta de entrada para muitos amantes das cervejas especiais, pois têm o sabor mais adocicado e menos amargo do que as tradicionais Pilsen e Lager. São refrescantes porque o trigo, quando fermentado, apresenta uma leve acidez e um aroma mais frutado, o que torna a experiência de beber ainda mais interessante.
Nessa versão, a Edelweiss Hefetrüb tem 5,3% de álcool, o que permite que ela seja bebida numa temperatura um pouco menos gelada – entre 4 e 6 graus.
Mas por que me lembrei dessa cerveja quando vi o filme? Segundo Dieter Berner, diretor do filme, a partir da leitura do livro, foi possível entender que Egon Schiele usava os desenhos como forma de fuga da realidade. “Era a sua maneira de entender o mundo, e, de alguma forma, lidar com ele”. Ou seja, ele vivia num mundo conturbado, sem conseguir pensar ou visualizar a longo prazo. A cerveja turva tem essa propriedade estética que dificulta a visão, quando a gente olha pelo copo, por isso me lembrei dessa versão da Edelweiss.
Toda sexta-feira você vai encontrar, aqui, nesta coluna, uma indicação de filme e de um rótulo de cerveja. Mas quais os critérios para a escolha dos filmes e das cervejas? Veja aqui como é feita a nossa coluna semanal. Você também pode ler as colunas anteriores.