Uma história com personagens fortes, mas que discute a solidão e a falta de estrutura familiar. Assim é “A Rota Selvagem”, que está em cartaz nos cinemas em todo o país, distribuído pela Diamond Films. Esta é a dica de filme de hoje da coluna de Cinema do site Cerveja e Gastronomia.
No longa, que quase é um road movie, a gente acompanha a saga do jovem Charley Thompson, um garoto de 15 anos que se apega a um dos cavalos de corrida do lugar em que trabalha. Essa relação vai se tornar muito intensa, principalmente depois que a vida do jovem praticamente recomeça e ele decide cruzar o país em busca de uma tia desaparecida.
O ritmo do filme segue em passos curtos. Não significa que ele seja cansativo ou longo. Pelo contrário, a impressão que se tem é que o garoto passa por muitas aventuras, como se o filme fosse dividido em blocos de histórias.
O diretor Andrew Haigh, que já dirigiu seriados para a HBO, conheceu o livro que originou o roteiro em 2011, quando filmava Weekend, um dos primeiros filmes do cineasta. Ele conta que ficou impressionado com a forma como o autor Willy Vlautin descrevia ao mesmo tempo uma sociedade unida, mas completamente sem rumo na vida.
Andrew Haigh, diretor do filme “A Rota Selvagem”
Willy traz à tona a realidade da rotina de uma vida que segue uma linha local. Este tipo de caminho não é o que leva ao topo. As expectativas são baixas e ninguém faz muito dinheiro. Eles estão apenas dando um jeito, vivendo, mas há ainda toda uma comunidade por trás das cenas, quase como uma família.
Pessoas surgem e desaparecem, histórias começam e terminam, e a vida continua. Como o próprio título diz, a rota selvagem pela qual passa o adolescente é algo que transforma a vida dele profundamente – em todos os aspectos. Essa busca incessante por um lugar que ele possa chamar de casa, na verdade, é uma busca de todos nós: queremos ser cuidados e ter alguém que cuida de nós. É um sentimento que existe em todos nós, esteja ele consciente ou não.
Além de ser um filme mais reflexivo, vale ver o longa pela fotografia. As cenas com o cavalo e o garoto, no meio dos Estados Unidos, são belíssimas. Eu fiquei bastante impressionado com uma das cenas do adolescente com cavalo, principalmente pela escolha da luz e das cores de fim de tarde. É bem impactante e representa bem o momento da história. Não vou dar spoiler, mas tenho certeza que você vai se lembrar de mim quando estiver vendo o filme.
A escolha dos atores foi marcada por uma curiosidade. O diretor contou que recebeu do ator Charlie Plummer uma fita com uma carta detalhada explicando porque ele seria perfeito para o papel principal. Depois de avaliar cerca de 100 portfólios, ele resolveu dar uma chance ao novato. Eu acho que valeu a aposta do diretor no jovem ator. Ele conseguiu colocar na atuação o medo e a inquietação que fazem parte do personagem, sem ser clichê ou forçado.
Outra curiosidade está na escolha da proporção da tela. O filme geralmente centraliza os personagens e dá espaço para as paisagens, com uma tela mais alta do que larga, como normalmente são os filmes de cinema. Isso permite que a gente tenha a sensação de estar acompanhando a vida de um garoto de 15 anos, enquanto ele passa pelos apertos que só a vida pode trazer.
“A Rota Selvagem” participou da Mostra de Cinema de Veneza e do Festival de Cinema de Toronto, ambos em 2017. Veja o trailer do filme, com legendas em português:
O que beber?
Diferentemente da adolescência complicada do personagem Charley, eu tive uma juventude bem tranquila. E recentemente pude reviver uma das minha paixões dessa época: biscoito Passatempo! Sério, é um dos meus biscoitos preferidos (na ordem, Biscoito de Leite Maltado, Wafer, Passatempo e Negresco).
Mas você deve estar se perguntando “o que essa conversa sobre biscoitos tem a ver com cerveja?”. Eu explico. Conheci há alguns meses a cerveja Passatempo – uma Stout feita com o biscoito! E foi ele que me chamou a atenção até o stand, pois na feira onde eu estava você podia tomar a cerveja e ainda harmonizar com o biscoito! Uma harmonização imperdível, né?
A cerveja é produzida pela Cervejaria Protótipo, em Belo Horizonte. Na capital mineira eles têm um bar em uma das regiões mais charmosas da cidade: o bairro de Santa Tereza.
A cerveja Stout tem espuma cremosa, de cor escura e de boa persistência. Na boca, o tostado do café com o leve chocolate que vem do biscoito equilibra o doce da baunilha do Passatempo e a gente sente aquele sabor delicioso do chocolate do recheio! Quem nunca abriu um biscoito recheado só para comer a parte de dentro e dispensar as casquinhas?
O estilo é bom para harmonizar com doces e com carnes cozidas escuras, como o Goulash. A harmonização mais conhecida e clássica deste estilo é com ostras, mas acredito que não ficaria tão bom com essa cerveja especificamente, pelo perfil mais adocicado que ela possui em relação às outras cervejas do estilo.
O bar é parada obrigatória do viajante que gosta de conhecer as cervejas locais. Além de experimentar a produção própria, você pode encontrar outras marcas e outros estilos plugados nas torneiras, que harmonizam bem com os petiscos da casa.
Você pode conhecer um pouco do bar no Instagram deles. Se vier a BH, não deixe de visitar!
Toda sexta-feira você vai encontrar, aqui, nesta coluna, uma indicação de filme e de um rótulo de cerveja. Mas quais os critérios para a escolha dos filmes e das cervejas? Veja aqui como é feita a nossa coluna semanal. Você também pode ler as colunas anteriores.