É possível harmonizar cerveja com sobremesas? Doce e cerveja combinam? Meus queridos leitores: não só combinam como se complementam. E em alguns casos, até trazem novas camadas de sabor às receitas mais simples!
Sei que parece estranho, até porque temos pouco costume, culturalmente falando, de beber álcool com sobremesas. Os europeus, principalmente os portugueses e italianos, têm por hábito beber licores (ou o famoso vinho do porto, no caso português) após as refeições. No Brasil este não é um hábito associado à cerveja. Aqui, o máximo que a gente consegue misturar é na hora de comer aquela trufa (que é feita com bebida alcóolica) ou um bombom de cereja, por exemplo, que é feito com um pouco de bebida.
Antes de fazer o curso de sommelier, em 2015, eu também pensava assim. Achava difícil combinar cervejas e sobremesas. Mas nada como informação e experiência para abrir a cabeça, não é verdade?
No curso fizemos várias experiências envolvendo chocolates (branco, ao leite e amargo) e três estilos de cerveja: Brown Ale, uma Fruit Lambic de cereja e uma Porter.
Aliás, é algo que você pode fazer com os amigos. Monte uma tabela pra você avaliar como fica o sabor de cada chocolate com a bebida. Então prove um pedaço de chocolate amargo, por exemplo, e beba a Brown Ale. Depois repita, bebendo a Fruit Lambic e, por último, com a Porter. Faça esse processo novamente, com o outro tipo de chocolate e vá anotando qual você acha que ficou mais gostoso. Ao final, você vai ter seu estilo preferido de cerveja para cada tipo de chocolate – o que pode ajudar em uma harmonização no futuro, por exemplo.
Eu mesmo já contei aqui no blog sobre minha experiência com harmonizações. Neste post eu contei, no finalzinho, sobre como foi um desafio harmonizar uma cocada mole com raspas de laranja. Só consegui fazer isso porque tive como base minha própria experiência. E isso, a gente só aprende treinando!
Foi assim que, sem querer, eu conheci uma harmonização das mais interessantes. Eu estava em um encontro de natal com amigos e cada um tinha levado um item diferente pra gente conhecer, comer e/ou beber. Uma amiga tinha levado um brownie sem castanhas (bem chocolatudo!!!) e a gente tinha lá uma cerveja que era um lançamento da Wäls, a Alambique County, uma edição especial, feita em parceria com a Goose Island, envelhecida em barril de carvalho usado antes na fabricação de cachaça mineira. O charme dessa Belgian Dark Strong Ale começava pelo vasilhame: garrafa rolhada, com tiras de couro envolvendo o pescoço da garrafa. Na boca, uma cerveja alcóolica, na medida, que tinha como ingredientes especiais a banana-passa e a castanha de Baru. Nem preciso falar que o cheiro era incrível, né? Quando a gente abriu a cerveja na hora veio a ideia de experimentar com o brownie. E o resultado, foi um natal inesquecível. Aliás, acho que até hoje nunca agradeci minha amiga Lígia, uma das fundadoras da Confece, pela experiência! Então fica aqui meu mais sincero obrigado!
Cerveja como ingrediente
A cerveja também pode ser um excelente ingrediente na hora de fazer uma receita. Se você pesquisar na internet pode encontrar várias receitas de doces, caldas, pudins e bolos preparados com algum estilo de cerveja.
Certa vez, preparei uma mousse de queijo canastra fresco (uma das vantagens de morar em Minas Gerais! ;)) e resolvi fazer uma calda de frutas vermelhas para contrastar com o sabor do queijo e trazer um pouco de dulçor e acidez para a sobremesa. Na hora de preparar, lavei framboesas, cervejas, morangos, piquei e coloquei tudo em uma panela com um pouco de açúcar. Mas na hora de colocar a água, resolvi trocar o líquido por uma dose de Lindemans Kriek – uma Fruit Lambic de cereja. Uma cerveja ácida, extremamente cheirosa e frutada que deixou a calda com uma cor ainda mais bonita, como dá pra ver na foto (sem filtro, juro!)
E uma dica: Dá pra fazer essa calda usando goiabada e uma cerveja mais ácida, como a Julieta, uma Fruit Beer produzida pela Backer. Alias, nada mais mineiro do que um Romeu e Julieta, não é verdade?
