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John Palmer - Foto: Divulgação
5 Perguntas

5 perguntas para John Palmer

O engenheiro mecânico John Palmer sempre foi curioso pelo processo de fabricação de cervejas. Com a ajuda de outros cervejeiros da internet (ele usava muitos grupos de discussão na Usenet, uma espécie de fórum), John trocou experiências e compreendeu que o processo, apesar de ter inúmeras variáveis, poderia ser simplificado para que todos fizessem sua própria cerveja. Foram tantas dicas e discussões que, em um dia, ele resolveu transformar esse conhecimento em um documento eletrônico, publicado nestes fóruns. Esse documento de 1994 ainda está disponível na internet. E foi a partir daí que essa ideia evoluiu e se transformou em um livro: How to Brew: Everything You Need to Know to Brew Great Beer Every Time. Lançado em 1999, o livro – que é considerado um dos principais guias de fabricação de cerveja no mundo – já vendeu mais de 400 mil cópias e está hoje na 4ª edição.

John está vindo ao Brasil na próxima semana para participar da 2ª edição do OuroBier. No dia 30 ele fará uma palestra sobre fermentação, dentro de uma programação voltada para o cervejeiro caseiro. Veja no final deste post as informações sobre o OuroBier.

E antes de vir para cá, nós conversamos com John Palmer, que topou participar da seção “5 perguntas”, respondendo algumas questões sobre o mercado cervejeiro no Brasil.

John Palmer - Foto: Divulgação
John Palmer – Foto: Divulgação

1. Os brasileiros são, em geral, muito criativos. Os cervejeiros caseiros não são uma exceção: eles usam muitos ingredientes diferentes como frutas, sementes, oleaginosas etc. Nós temos, também, cervejarias que usam ingredientes regionais como laranja-da-terra, limão-capeta e capim-limão. Qual a sua opinião sobre este tipo de produção de cerveja?

Eu penso que os ingredientes regionais, quando usados com cuidado, são o que mantém a cerveja interessante e em crescimento, como indústria. As cervejas Pilsner são as mais populares no mundo, e tem sido assim nos últimos 100 anos. A solução? Uma American IPA! Nós pegamos o estilo britânico e misturamos com nosso lúpulo Cascade. Nós diminuímos a quantidade de malte caramelo e fizemos uma cerveja mais clara, e assim, a cerveja artesanal americana tinha um produto para competir contra as grandes cervejarias produtoras de pilsners. Dessa forma, eu sou enormemente a favor do uso de ingredientes não-convencionais. Novos estilos vão melhorar a cerveja para todos e criar marcas de exportação que podem ajudar a indústria da cerveja no Brasil e em outros países. Eu pessoalmente posso não gostar de cada novo ingrediente ou estilo, mas isso não é um problema, alguém vai gostar.

2. No Brasil há leis que proíbem a venda de cervejas caseiras sem registro. O governo argumenta que não há controles de saúde ou sanitários durante a fabricação. Já os cervejeiros caseiros dizem que o produto deles deve ser tratado como comida caseira (pães, bolos) e que este tipo de comércio é bom para o mercado local. Este é um assunto muito controverso. Como você é um autor de livros que ensina as pessoas a fazerem suas próprias cervejas, o que você pensa sobre esta polêmica?
Nós temos a mesma situação aqui nos Estados Unidos, embora eu ache que o motivo está ligado aos impostos. Certamente há casos no mundo de países pobres onde as pessoas vendem álcool barato feito com anticongelantes e outros produtos químicos que fazem mal às pessoas. Assim, as leis que proíbem a produção casual de cerveja estão, geralmente, no melhor interessa da população. Mas, por outro lado, intoxicações alimentares são comuns e potencialmente mortais com picles feitos em casa, sanduíches e outros. Então, por que não com a cerveja? Eu acho que, quando o conhecimento do processo de produção da cerveja se tornar um conhecimento comum e os técnicos do governo também conhecerem o processo e as áreas de risco, eles podem permitir a venda, ou, pelo menos, facilitar a obtenção de uma licença.
Destaque da entrevista - Foto: Divulgação
Destaque da entrevista – Foto: Divulgação


3. Seu livro (How to Brew – não há versão oficial em português do livro) é o mais recomendado para quem está começando a fazer cerveja. O estilo de escrita que você usa é muito simples e direto, permitindo que as pessoas fabriquem cerveja por conta própria. Este era o seu objetivo quando você escreveu a primeira edição ou você é naturalmente didático e informativo?

Ah! O que veio primeiro, a galinha ou o ovo? Eu acho que eu sempre fui um explicador, mas escrever meu livro deixou minha organização e meus métodos bem melhores. Eu sou um engenheiro e escrever procedimentos padronizados para descrever processos de produção sempre fez parte do meu trabalho. Então, parte deste processo foi natural e parte eu aprendi e pratiquei. Quando faço uma pergunta eu sempre penso no quadro geral e por onde começar a resposta para que a pessoa possa entender. O por quê é a minha resposta. Como diz minha esposa “Não o faça começar!”

4.Para alguém que está começando no mundo do cervejeiro caseiro, qual é o seu conselho: obter experiência fazendo muitos lotes de cerveja ou sendo metódico em relação às receitas, anotando tudo e transformando cada produção numa espécie de “experimento científico”?

É um pouco de cada. Eu digo, leia o capítulo 1 e faça! Muitas pessoas me dizem que eles leram tudo que puderam encontrar e não fizeram ainda a primeira cerveja porque não se sentem seguros. Faça. Não é tão difícil e você vai fazer cerveja (de algum tipo, pode ser boa, pode ser ruim), mas você não pode aprender sobre o processo sem tentar. E tentar, vai te dar muita experiência para que você leia o capítulo novamente e perceba “Ah, era isso que aquilo significava! Parecia confuso mas era tão simples!”

É possível aprender o básico sem anotações e sem experimentos, mas precisa ser uma experiência feita por suas próprias mãos. Aí, uma vez que você tem um pouco de experiência e contexto, você pode fazer algumas experiências científicas e ler livros mais complexos como o Water (nota da tradução: este é o título do segundo livro de John, não publicado no Brasil).

5. Cerveja e Gastronomia é um blog sobre harmonizações de cerveja e comida. Como você já produziu uma infinidade de estilos de cerveja, na sua opinião, qual é o estilo mais versátil para harmonizações?

Eu não sou um especialista em harmonizações de cerveja mas há duas linhas de pensamento: 1) procure pelo mesmo sabor na cerveja e na comida. Por exemplo, uma Amber Ale bem maltada ou uma Lager poderiam harmonizar bem com o sabor de pão tostado na comida, como na pizza ou no sanduíche. 2) a outra linha de pensamento diz que você deve procurar dois sabores que se combinam e produzem um sabor especial, quando juntos: como o manjericão e os lúpulos ou azedo com doce. Dito isso, eu acho que as cervejas de cor âmbar, aquelas com pequenas quantidades de maltes especiais como o Biscuit, Caramelo e Munique, têm a maior extensão de sabores para complementar um prato. Alto amargor funciona melhor com pratos muito doces ou gordurosos (ricos), então, um amargor mais moderado não interfere com alimentos menos saborosos.

John Palmer e amigos - Foto: Divulgação
John Palmer e amigos – Foto: Divulgação

Livros publicados:

Os livros escritos por John Palmer não têm tradução para o português ainda, mas estão à venda no Brasil pela Amazon. Veja aqui os links para você comprar:

How To Brew: Everything You Need to Know to Brew Great Beer Every Time

Water: A Comprehensive Guide for Brewers

Sobre o OuroBier:

Para quem vai passar a semana santa em Minas Gerais, uma boa dica é o OuroBier. O Festival Internacional de Cervejas Artesanais de Ouro Preto vai reunir mais de 100 rótulos de cervejarias mineiras no dia 31 de março. A novidade deste ano é um aplicativo de celular para que os visitantes possam votar na melhor cerveja do evento.

No espaço – que foi ampliado em relação ao do ano passado – também há 10 diferentes food trucks e apresentações musicais no palco principal. A principal atração é a banda Iron Ladies, que faz um tributo feminino ao Iron Maiden no Brasil. A festa está marcada para começar às 10h da manhã de sábado (dia 31 de março) e vai terminar às 3h da madrugada de domingo, no Centro de Artes e Convenções da Ufop, em Ouro Preto, Minas Gerais.

Antes da festa, no dia 30, os cervejeiros vão poder participar de uma série de seminários sobre os processos e as técnicas de produção de cervejas. Além da palestra do americano John Palmer, outras apresentações estão confirmadas:  “Estabilidade de Sabor na Cerveja e a Importância da Gestão Sensorial”, por Carlos Henrique de Faria Vasconcelos; “Água Cervejeira: Impactos e Ajustes”, por Jamal Adalawhak e “Demônios cervejeiros: o maravilhoso mundo selvagem”, por Fernando Dota. Haverá ainda um curso de produção caseira oferecido pela Casa O.L.E.C. Quem participar do curso ou dos seminários, na sexta-feira, já garante o ingresso para o Festival, no sábado.

As inscrições para as palestras e as informações sobre a venda de ingressos estão no site do Festival: http://www.ourobier.com.br

“5 perguntas” é o espaço no blog para entrevistas com personalidades do mundo cervejeiro. Além de trazer informações atualizadas de mercado, haverá sempre uma sugestão de harmonização sugerida pelo entrevistado. Veja aqui todas as entrevistas da seção “5 perguntas”.

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