Não sei vocês conhecem o ditado popular: cobertor curto, ou cobre a cabeça ou cobre os pés. E esse cobertor curto é um ótimo exemplo para explicar a dinâmica das temperaturas das cervejas. Ou você gela demais, e perde em sabor, ou esfria pouco e não consegue beber direito. Claro que a gente tem algumas dicas para você não errar na hora de beber sua cerveja preferida.
A primeira informação que você precisa saber é que não existe temperatura padrão para a cerveja. Cada estilo tem suas características e sua própria temperatura de serviço. Dessa forma, uma cerveja que tem especiarias como ingredientes, por exemplo, pode não exalar esses cheiros maravilhosos se a temperatura for muito baixa (como a nossa “estupidamente gelada”). O ideal é respeitar a temperatura de cada bebida, permitindo também que respeite o seu paladar. Equilíbrio né?
De forma mais científica, a temperatura fria deixa os compostos aromáticos menos voláteis , fazendo com que eles fiquem “presos” na cerveja. Quando isso acontece, o sabor e o aroma da cerveja ficam severamente comprometidos, ao ponto da bebida ficar sem sabor. Além disso, a cerveja muito gelada “congela” nossas papilas gustativas e deixa tudo sem sabor. Não é o que a gente quer quando está bebendo e comendo, não é verdade?
Eu gosto de cervejas geladas. Mas gosto também de fazer uma experiência no copo, que deixo para você fazer também em casa. É uma ótima experiência sensorial. Beba a cerveja aos poucos, e vá sentindo os aromas que vão surgindo à medida que ela “esquenta” no copo. E não é esquentar, no sentido de atingir altas temperaturas não. É deixar a cerveja ganhar 2 ou 3 graus Celsius naturalmente, ao ar livre mesmo. Depois que acabar de beber, cheire também a garrafa para você ver como o cheiro muda e você passa a sentir outros aromas, diferentes de quando ela estava geladinha. Obviamente não quero beber cerveja quente. Ninguém quer, aliás! Mas ao fazer isso, você treina seu paladar e prepara seus sentidos para uma cerveja na temperatura mais correta.
De olho na geladeira!
A sua geladeira também tem variação de temperaturas e por isso é importante conhecer bem o aparelho que você tem em casa. Isso vai impactar diretamente na qualidade da cerveja que você bebe. Em linhas gerais, podemos dizer que as temperaturas são mais altas (ou seja, cerveja menos gelada) na parte baixa da geladeira. E mais frias (cerveja mais gelada) na parte superior. É por isso que as gavetas de legumes estão sempre para baixo, enquanto há uma parte para queijos e carnes na parte superior, pois estes são alimentos que precisam de temperaturas menores para conservar por mais tempo.
Assim, se você vai beber uma Lager, que precisa de uma temperatura entre 0 e 3 graus Celsius, por exemplo, não pode deixar na parte de baixo da geladeira. Já uma Russian Imperial Stout, uma cerveja de estilo mais alcóolico e mais rico em sabor e cheiros, pode ser servida a uma temperatura de 6 graus, por exemplo, que é a média da temperatura encontrada na parte baixa de uma geladeira.
Temperaturas por estilo
Você deve estar se perguntando: preciso decorar todas as temperaturas para cada estilo? Não! As cervejas sempre trazem no rótulo a temperatura ideal de consumo. Mas é claro que eu tenho uma dica: geralmente a temperatura ideal de consumo está entre 3 e 4 graus a menos do que a quantidade de álcool da cerveja. Não é uma dica infalível, mas é uma referência que você pode ter e que ajuda muito.
Outra dica é que, geralmente, cervejas mais claras e cristalinas pedem temperaturas menores, mais próximas de 1 grau. E cervejas da escola americana (mais lupuladas) também podem se beneficiar de 1 ou 2 graus acima da média. É que os cheiros dos lúpulos exalam mais quando a cerveja não está muito gelada. Como eu disse, sirvo um copo maior e o tempo de beber a cerveja é o que ela precisa pra ganhar esses 2 graus e exalar todo o seu potencial.
As cervejas de trigo (Weiss, Witbier), clarinhas e saborosas, também pedem temperaturas um pouco mais altas. Cerca de 3 ou 4 graus já ajudam bem no aproveitamento melhor da cerveja.
As Sours (que são mais ácidas e azedinhas) podem se beneficiar de baixas temperaturas. A acidez (que é uma das características dessas cervejas) pode ficar menos agressiva se servida mais gelada, o que pode ser uma boa dica para quem está começando a beber cervejas deste estilo. No caso das Lambics e outras cervejas que levam frutas (como as Fruit Beers), a temperatura já deve ser mais alta (cerca de 6 a 8 graus Celsius) para que você possa aproveitar melhor.
No caso das cervejas belgas (como as Dubbels e Quadrupels), a temperatura pode ser mais alta, entre 7 a 10 graus Celsius. Elas possuem muito álcool, muito malte e muitas vezes possuem características sensoriais que só podem ser percebidas com o aumento da temperatura.
As Tripels e as Belgian Blonde Ales representam aquela exceção da regra que eu falei mais cedo: elas são muito alcóolicas mas tendem a funcionar mais quando servidas em temperaturas mais baixas, próximas dos 2 a 4 graus.
Portanto, agora você já sabe que cerveja “estupidamente gelada”, como o próprio nome diz, é uma coisa estúpida! Afinal, para que pagar caro para não aproveitar a cerveja?
Ficou alguma dúvida? Pergunte aqui nos comentários que a gente vai te ajudar!