Nesta semana, o juiz federal Juliano Taveira Bernardes, em Goiás, decidiu que todas as cervejarias devem descrever em seus rótulos quais cereais (maltados ou não) fazem parte da cerveja. A decisão cita, especificamente, a Ambev, a Brasil Kirin, a Kaiser e a Cervejaria Petrópolis, e dá 120 dias para que elas cumpram a lei, sob pena de multa. O Governo Federal também foi citado, para que comunique essa decisão para todas as cervejarias do país e faça a fiscalização. Veja a íntegra da decisão do juiz aqui.
O assunto “milho na cerveja” sempre foi muito polêmico. Nos tempos de fake news, em vez de tomar posições e ficar discutindo quem tem razão, nós preferimos trazer informações sobre o assunto para que você não passe mentiras para a frente. Veja abaixo cinco mitos e verdades sobre os ingredientes usados na fabricação da cerveja:
1. “Cerveja que é cerveja tem que seguir a Lei da Pureza na Alemanha”
A Lei da Pureza, aprovada na Alemanha em 1516, foi criada em um momento muito específico da história do país. Na época havia um problema de saúde gerado pela fabricação da bebida, pois as cervejarias misturavam todo tipo de ingrediente, contaminando a bebida e trazendo doenças para a população. Com o surgimento da lei, as cervejarias só poderiam usar água, malte e lúpulo para fabricar cerveja (só mais tarde foi incluída a levedura).
Hoje os tempos são outros, a regulação sanitária é outra e temos cervejas muito interessantes que têm ingredientes adicionais que completam o sabor da bebida. Das brasileiras, com frutas e folhas, às belgas, com especiarias, sementes de coentro e outros ingredientes – desde que usados com segurança, trazem novas camadas de sabor à bebida e diferentes texturas. No caso dos cereais, por exemplo, a adição de aveia em uma cerveja deixa a espuma mais consistente e cremosa e isso pode alterar a percepção que temos da bebida. Nem por isso a cerveja fica ruim ou deveria deixar de ser tomada.
2. “Eu não bebo cerveja com milho”
Essa frase só pode ser considerada válida se você realmente tem essa preferência pelo sabor. O milho traz apenas leveza e deixa a cor da cerveja mais clara, além de baratear o processo de produção. Cerveja com milho não é defeito. Cerveja ruim, sim! A Wäls, em Belo Horizonte, tem uma cerveja muito saborosa, leve, que leva milho nos ingredientes: a Hop Corn Ipa. Na época, a cerveja foi lançada como uma provocação, para quem dizia que, por ter sido comprada pela Ambev, que isso traria mudanças significativas nas receitas produzidas pela cervejaria mineira.
Além do milho, outros ingredientes também são usados com este propósito de suavizar o sabor, como o arroz e o sorgo.
3. “Cerveja Puro Malte é só marketing”
Pode até ter cervejaria por aí que ainda pense em enganar o consumidor por algum tempo. Mas acredite: principalmente em tempos de redes sociais é muito difícil seguir com uma mentira dessas por muito tempo. Se a cervejaria optou por um produto puro malte é porque ela quer apresentar ao mercado um produto sem misturas. Nem por isso é melhor do que a cerveja fabricada com uma parte de cereais não maltados. Mas com certeza, a cerveja puro malte vai ser mais cara do que a cerveja com mistura.
4. “Essa coisa de fazer cerveja com milho é coisa de empresa capitalista que só quer ganhar dinheiro”
Mais uma mentira. Primeiro porque a fabricação de cerveja acontece há mais de cinco mil anos. E no início todos os tipos de grão eram usados para fazer cerveja. O que aconteceu, com o tempo, é que o trigo passou a ser mais usado como alimento (já que era mais fácil de ser transformado em pão, por exemplo), enquanto a cevada, mais amarga, foi sendo deixada de lado para a fabricação da bebida, menos usada como alimento. Mas sorgo, arroz, e outros cereais estiveram entre os primeiros ingredientes usados pelos cervejeiros e cervejeiras da antiguidade.
5. “Cerveja comercial só tem milho.”
Pouca gente sabe – ou prefere fingir não saber, só para causar polêmica – mas a legislação brasileira proíbe o uso de cereais não maltados acima de 45% do total de ingredientes da cerveja. Dessa forma, até mesmo a cerveja mais comercial e barata que você conhece tem mais cevada do que milho.
Eu acredito que a nova legislação traz o benefício de informar ao consumidor o que ele está consumindo. É um direito meu saber o que eu estou bebendo. Mas isso não interfere em nada na qualidade da bebida.
Melhor do que ficar vigiando o que o outro bebe, que tal pensar em outros critérios como, beber menos e beber melhor? Ou beber cervejas de empresas locais, da sua cidade ou estado, em vez de procurar cervejas caríssimas e importadas?
Você ainda tem alguma dúvida sobre os ingredientes da cerveja? Escreva aqui nos comentários!